Google+ Mil Vezes Flamengo: Carta de Alberto Borgerth* aos 100 anos do futebol Rubro-Negro

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Carta de Alberto Borgerth* aos 100 anos do futebol Rubro-Negro

Em pé, da esquerda para a direita: Lawrence, Amarante, Píndaro, Baena, Nery e Galo; sentados, da esquerda para a direita: Curiol, Arnaldo, Zé Pedro, Miguel e Borghert. Este foi o primeiro time de futebol do Clube de Regatas do Flamengo. 

Rio, 3 de maio de 2012



Sempre fui um amante das primeiras horas da manhã. Tenho certeza de que foram feitas, talhadas para os treinos e disputas do remo, meu primeiro esporte. E se o amanhecer eternamente me encanta, o do Rio de Janeiro, minha cidade, me é um espetáculo por demais especial, que me dou o prazer de testemunhar todos os dias.

No de hoje, a disposição me surgiu ainda mais pujante. Despertei de pronto, lépido qual Pherusa numa de tantas regatas que vencemos. De minha vista privilegiada, procurei não o reflexo do sol nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas - por sinal, o Astro-Rei estava tímido -, mas meu olhar esteve bem próximo. Buscou-a e, sem demora, lá estava ela diante de mim: a Bandeira Rubro-Negra. Que um dia conheci ouro e azul. Que um dia, veja só, me foi símbolo adversário - um absurdo, reconheço; mas que, no dia em que permiti-me apaixonar por ela, foi me tomando da mesma forma como fez e faz com tantos brasileiros, antes e depois de mim. 

Lá estava meu pavilhão amado, tremulando altivo, seguramente sabedor da celebração da importante e especialíssima efeméride: 100 anos de futebol do Flamengo. 

Não consigo traduzir nestas e noutras letras, nascidas neste meu mundo atual ou naquele que um dia habitei e que me deu privilégio de me fazer Rubro-Negro, o sentimento que me abraça, trazido pelas recordações daquele 3 de maio de 1912, nosso primeiro grande jogo. Retumbante 16 a 2 contra o Mangueira, no belo estádio do América na Rua Campos Salles, no qual pude colaborar com três goals. Recordo-me claramente da felicidade explosiva e, ainda mais limpidamente, de uma frase que se repetia de forma infindável em minha mente em meio a toda festa na ocasião: "Fiz o certo".

Hoje, 100 anos depois, ainda brilha em mim o orgulho de ter sido o primeiro daquele levante contra o Fluminense Football Club e da consequente iniciativa de ter, de vez, migrado para o Flamengo, no qual já remava, para tornar-me não apenas um jogador do scratch Rubro-Negro mas fundador do esporte no clube e defensor ferrenho do mesmo, batalhando sempre para que o Flamengo das águas se tornasse também o dos campos. E assim o foi.

Confesso, experimento por um instante certa soberba quando me recordo ter sido eu o estopim da maior paixão dentre tantas em vermelho e preto deste clube, colaborando nos matches e no cotidiano para fazer o futebol flamengo ser uma grande realidade, sem saber, àquela época, que se tornaria a mais bela de todas; e me encho de brios ao ter o peito e a mente invadidos pelos gritos da torcida, nos treinos cada vez mais concorridos na Praia do Pinto e, posteriormente, no campo do Paysandu ou nas batalhas em campo. Não consigo disfarçar o ímpeto de ter em mim, vivos, os delírios, a cada gol, da massa que não apenas vimos nascer como ajudamos a criar - composta, como João do Rio tão bem descreveu, de "meninas que pareciam querer atirar-se e gritavam o nome dos jogadores, de senhoras pálidas de entusiasmo, entre cavalheiros como tontos de perfume e também de entusiasmo".

Por um átimo, tudo isso realmente me faz repleto de um orgulho colossal; mas logo penso ser bobagem atribuir a uma só pessoa tais feitos pois, antes de tudo, o Flamengo estava destinado a ser grande. Sempre fora. Sempre será. 

Embriagado de emoção, retorno das recordações à Bandeira. E, cometendo uma heresia a quem me está tão perto, é não a Ele, mas a Ela, que peço que ilumine não apenas os que um dia souberam defender em suor, denodo e talento sobre os campos verdes do mundo o Flamengo e suas cores, mas igualmente rogo que siga inspirando e fortalecendo todo atleta Rubro-Negro - e, em especial, neste 3 de maio de 2012, os que agora contam nossa história no futebol. Que o seu tremular, seja em nossa sede, nas mãos da torcida ou em suas próprias, os façam saber que são privilegiados em defender o Flamengo como um dia eu fui; mas que entendam que, ao mesmo tempo, são servos de um amor infinito e inquebrantável, movido a milhões e tão bem representados em ti. 

Que ao te fitarem, Bandeira Rubro-Negra, percebam tua força, acatem teu respeito, incorporem tuas cores e teu espírito; e traduzam tudo isso na vontade de vencer, vencer, vencer - sentimento que tão apaixonadamente experimentei há 100 anos, vivi por tantos e sinto eternamente. 

Para sempre benditas sejam esta data, minha torcida, Nação minha e de todos nós. E, acima de tudo, abençoado seja o Flamengo.

Apaixonadamente,
Alberto Borghert





* Alberto Borgerth foi o fundador do futebol do Flamengo. Esta carta é uma obra de ficção, pequena homenagem minha a essa data tão especial para todos nós, Rubro-Negros. Agradecimentos e créditos à Flapédia e ao site Rio, Cidade Sportiva, de onde colhi algumas das informações presentes no texto.

Um comentário: