Google+ Mil Vezes Flamengo: O Nação Rubro-Negra ainda não está a altura da Nação

terça-feira, 26 de março de 2013

O Nação Rubro-Negra ainda não está a altura da Nação

Acabou a ansiedade: nesta terça-feira tivemos o lançamento do programa de sócio-torcedor do Flamengo.  E mesmo com informações e boatos circulantes a respeito do mesmo já rolando nas interwebs há alguns dias, eu optei por me manifestar somente quando ele se tornasse realidade.

Hoje, enfim, temos o fato, o projeto. E é com dor no coração que eu digo que não gosteido que vi. Como é muito recente, e entendo ser um trabalho a ser evoluído, penso que o melhor que posso fazer é não apenas escrever minhas críticas e ponderações, mas tentar ser construtivo. Afinal, por mais que não concorde com a coisa da forma com que foi feita - ao menos com o projeto que está aí, em sua versão 1.0 -, torço e vou torcer sempre para que dê certo, como tudo que envolve o Flamengo. Vamos lá então.

Pra começo de conversa: coitado, não! - Numa boa, me irrita muito esse "Ajuda aí, gente" adotado pela direção ao falar do projeto. Esse tipo de discurso tem muito mais a ver com pedido de doação - o que não deveria ser o caso em hipótese alguma! - do que com o lançamento de um plano que visa se tornar uma imensa fonte de renda para o clube através da captação de uma nova modalidade de sócio repleta de vantagens para a Nação.

Pior: usar esse tipo de argumento assistencialista é quase uma forma velada de reconhecer que o projeto não traz tantos atrativos. Algo como "a gente sabe que não tá bacana, mas dá uma força aí". Ou se fosse realmente algo em que o torcedor visse um tremendo valor seria realmente preciso esse tipo de apelo? Não, certo?

E esta caracterização do Nação Rubro-Negra como "ajuda" ainda traz um outro problema: por mais que, num primeiro momento, parte da torcida se disponha a "ajudar", isso não resolve uma das grandes pedras no sapato de projetos como este que é o da retenção - ou seja, da fidelização dos participantes. Se não houver um algo mais, a manutenção do quadro de sócios ativos fatalmente será comprometida.

Sócio-torcedor precisa ser... sócio! - Um imenso problema do Nação, na minha opinião, está justamente no conceito do projeto. Atualmente - vou repetir: atualmente! - ele peca nas duas palavras que compõem a expressão sócio-torcedor, com especial ênfase na primeira.

A palavra "sócio" pressupõe obviamente algum tipo de vida social no clube; quando trata-se de um clube de futebol, então, isso se estende ao patamar político, pois um dos principais argumentos de sedução ao potencial associado é a chance de, diferentemente do simples torcedor, poder influir na direção e no comando do mesmo. E este projeto não prevê nem a participação social nem política.

Sobre a social, você pode perguntar: "Ah, mas como é que você vai querer que o torcedor fora do Rio frequente a Gávea?".  Pois eu respondo: a modalidade de sócio contribuinte off-Rio, vigente há anos, permite que seus associados possam fazê-lo 30 dias por ano - ou seja, o que seria equivalente a um período de férias da pessoa, comportando uma possível vinda ao Rio de Janeiro.

No que diz respeito à política, novamente o sócio off-Rio leva vantagem: depois de 3 anos de associado, ele ainda pode votar para presidente. Se duvida, a descrição está neste link do próprio site do Flamengo.

Ou seja: em termos sociais, o sócio contribuinte off-Rio pode bem mais do que o sócio-torcedor, tendo sua mensalidade no mesmo valor do plano mais básico do projeto recém-lançado - a saber, R$40.

Passemos então à parte do torcedor no "sócio-torcedor". E eu pergunto: que tipo de agrado ele poderia ter, além do frequentador comum de estádios, para este plano?  Segundo a planilha usada para comparar e expor os diversos planos de sócio-torcedor e os respectivos benefícios de cada, as vantagens apontadas dizem respeito apenas a descontos em bens - sejam eles ingressos antecipados ou mercadorias das empresas parceiras do projeto Movimento Por Um Futebol Melhor, capitaneado pela Ambev.  

Se um formato vantajoso na compra de ingressos deve estar no centro de um projeto de sócio-torcedor, ela não pode ser o único atrativo "próprio" - ou seja, oferecido pelo clube. É claro que adicionais como o Movimento da Ambev são bem-vindos, mas é preciso que se crie um grupo de vantagens de forma autônoma. Sobre isso, o que temos hoje, no site do Nação Rubro-Negra, é uma aba chamada "Promoções" que, ao ser clicada, tão somente exibe a seguinte mensagem: "Aguarde! Em breve, muitas promoções exclusivas para você".

Desculpa, mas não pode não ter sequer uma promoção. Quer uma? No ato imediato da adesão, dar ao sócio a camiseta do projeto, vestida hoje por integrantes do conselho gestor na coletiva de lançamento do Nação Rubro-Negra. Isso sem falar na possibilidade de parceria para compra de algum grupo de itens no Espaço Rubro-Negro, na FlaBoutique, para citar duas das mais famosas lojas do Flamengo que possuem site. Isso para citar exemplos simples, sem elaborar demais. Possibilidades básicas, elementares.

Assim, tá na cara que o sócio-torcedor precisa ter mais vantagens na parte "torcedor" e ser minimamente algo que justifique a parte "sócio". O que temos hoje só atende uma metade - e, convenhamos, não da forma devida.

Só cartão de crédito? - Como já escrevi por aqui noutras oportunidades, o Flamengo é uma força que emana do povo. Só por ele somos chamados de Nação. Enfim, o Rubro-Negro é democrático e plural por natureza; e um projeto que fala diretamente com o seu torcedor não pode ser excludente de forma alguma.

Mesmo diante dessa verdade, o Nação Rubro-Negra foi lançado apenas aceitando como forma de pagamento o cartão de crédito. Isso é um erro bobo demais, demais. Em um mundo em que qualquer e-commerce oferece o boleto bancário e a transferência eletrônica como opções de pagamento, em que pagseguros da vida movimentam as transações do Mercado Livre, não dá para querer se fiar apenas em uma única forma de pagamento. E, pior ainda, na mais elitizada possível. Tá muito errado.

Comunicação defasada -  Diz a página inicial do site do Nação Rubro-Negra: "Vamos fazer o maior programa de sócio-torcedor do mundo". Ou seja: temos aí um convite a construção conjunta deste plano, com a torcida opinando e influindo nesta criação. No entanto, não há nada no site que traduza em termos práticos essa comunicação, além de um "fale conosco" antiquado. E isso em 2013.

No site inicial, há ainda, o link para o Facebook e para o Twitter da campanha...e só. Do "lado de dentro" do site não há menção alguma sobre as duas redes sociais. Não pode.

E não é só isso: o sistema de prioridade de ingressos está muito mal explicado. Não é possível entender em termos mais detalhados como vai se dar tal mecânica. Será por lote? Ou por dia de antecedência para a compra? E isso porque os ingressos são os atrativos principais da oferta...

*** 

De novo: eu torço, e muito, para o Nação Rubro-Negra; mas, como profissional de marketing que sou, não posso fazer vista grossa para as correções imediatas que devem haver para o projeto passar de uma "ajuda" de tom errado e embaraçoso para algo que, de fato, faça jus ao título de projeto de sócio-torcedor do Clube de Regatas do Flamengo:

* Vantagens que tornem a modalidade competitiva com a de off-Rio. Eu entendo que o ideal já seria uma migração que transformasse naturalmente o Sócio Off-Rio em sócio-torcedor, mantendo naturalmente os benefícios da modalidade original e dispondo-as a todos que integrarem o Nação Rubro-Negra. Ou seja: integrantes do Nação podendo frequentar o clube por 30 dias ao ano e, após 3 anos de assiduidade nas mensalidades, o direito a voto nas eleições presidenciais - o que ajudaria a trabalhar a retenção dos sócios-torcedores no projeto.

* Um kit de boas vindas, com itens exclusivos para esta modalidade, trabalhando o atributo do diferencial junto ao sócio-torcedor desde a sua entrada - e, para isso, usar a parceria da Adidas para tal;

* Um sistema de ingressos mais bem-explicado e definido do que o que hoje figura no site. Por exemplo, por que não um número de ingressos grátis por mês a fim de, novamente, reforçar a retenção dos sócios-torcedores?;

* Um grupo real de promoções e benefícios além dos do Movimento Por Um Futebol Melhor, pensando não apenas em produtos como em experiências - por exemplo, que tal algo relacionado à chance de transformar um filho ou irmão seu em mascote num jogo? Ou, ainda, uma visita guiada à sala de troféus comandada por um ex-craque do clube? Ou, ainda, uma mensagem personalizada em vídeo feita também por um ex-craque? E que tal um documentário exclusivo a ser produzido, num DVD personalizado? Em se tratando de Flamengo, são tantas opções...

* E, por fim, e não menos importante - muito pelo contrário - não tratarem o Flamengo como digno de pena. Pior: não quererem isso da parte da torcida, sequer estimularem isso junto a ela. A mensalidade do sócio-torcedor não pode ser qual um dízimo, quantia doada em nome de uma fé. É preciso vantagens reais a quem está disposto a destinar uma quantia que pode realmente pesar no seu bolso a encampar o projeto - e isso é papel da Vice-Presidência de marketing do Flamengo.

Para falar nela, em face de tantos e tantos anos de campanhas e ações murchas, sem corresponder ao incrível potencial do clube, em tempos de renovação no Flamengo muito se espera do comando do marketing. Muito se apostou neste departamento; muito apoio foi declarado. Agora, enfim, é hora de ele oferecer um trabalho mais sólido, mais sério, condizente com o Flamengo e com as expectativas criadas. Afinal, não é só na renegociação das dívidas que se faz o resgate da real Identidade Rubro-Negra, mas também no que de fato representa o ato de tornar-se parte daquilo que o clube quer que se transforme no maior programa de sócio-torcedor do mundo.

É preciso que se diga e que não se deixe esconder: o Nação Rubro-Negra é um jogo que começa morno, mas que pode e deve ser convertido numa vitória histórica. Porém, isso depende de quem comanda o Flamengo. A bola está com a direção do clube; e a braçadeira, com o departamento de marketing. Façam por onde que muitos mais corresponderão.

11 comentários:

  1. Só faltou falar que a grande maioria da torcida não pode ajudar com este valor e que ela gostaria de ajudar. Entrei no site do Inter e vi que eles tem um plano de 15,00 - “Agora, contribuindo com a mensalidade de R$ 15,00, é possível integrar o quadro social do Campeão de Tudo!” - e um de 5,00 para crianças de até 11 anos.

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  2. Análise muito bem feita e com a qual concordo em gênero, número e grau. Parece-me que uma frase sintetiza tudo "a mensalidade do sócio-torcedor não pode ser qual um dízimo, quantia doada em nome de uma fé".O Flamengo não precisa de caridade e sim de atitude. Confesso que também fiquei decepcionado com o programa. Depois de ver as palestras do BAP esperava uma coisa bem mais bem feita, ousada, ambiciosa, inovadora, criativa, a altura das melhores expectativas na Nação Rubronegra. Eu que estou muito a fim de participar do projeto de soerguimento do Flamengo, não me senti a vontade para contribuir e não é por qualquer tipo de sentimento menor, e sim pela tremenda frustração de não conseguir me inserir no Projeto de uma forma que eu me sentisse realizado como cidadão rubronegro.

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  3. Cara, me desculpa, mas fundo preto com letra branca não dá para ler. Força a vista demais. Fui até a metade do texto - muito bom, por sinal.

    Fica a dica e SRN!

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  4. Flamengonline, obrigado! Abraços e Saudações Rubro-Negras!

    Marcelo, o problema é que, com as poucas vantagens, o valor mínimo (R$39,90) já está caro. Eu até concordo com esse montante, se o sócio de fato tiver vantagens mais numerosas e reais.

    Zeca, te entendo perfeitamente. Não quero fazer caridade para o Flamengo num projeto de sócio-torcedor. Doação é uma coisa, ST é outra!

    Carlinhos, aposto que você é designer, hehe! Mas, de qualquer forma, rola um copy + paste no Word não? ;)

    Abraços e Saudações Rubro-Negras a todos!

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  5. SENSACIONAL!!!!!
    SRN, Vivi (@vivi_mariano)

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  6. Ótimo post, mandei para o fale conosco do portal do programa. Estou sócio, mas realmente entrei porque estou dando um voto de confiança a nova diretoria, espero que tenha as alterações que você sugeriu aqui no post porque senão provavelmente não renovarei o plano.

    Sempre tive vontade de fazer a associação off-rio, não fazia somente porque me obrigava a enviar diversos documentos e não tinha uma forma prática para associar. Acho que usaria muito a possibilidade de frequentar o clube por 30 dias no ano porque gosto muito de ir para o Rio nas férias. Também procurei link para fla boutique e achei um absurdo não ter direito a descontos com produtos do próprio clube. Ou seja, eu tenha descontos em produtos de outras marcas mas não tenho em produtos da marca flamengo. Que paradoxo pra quem é sócio da marca flamengo.

    Enfim, realmente ainda tem muito o que melhorar e acho que com o tempo a diretoria inclusive vai conseguir algumas alterações no estatuto pra oferecer maiores vantagens. Estou fazendo a minha parte para um projeto que tenho esperança e confiança. Espero não me decepcionar.

    SRN

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  7. Carlos,

    Dá uma lida nesse link e faça seu comentário. É uma visão bem diferente do programa.

    http://magiarubronegra.com.br/conteudo.asp?id=1857&descricao=1857

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  8. É isso aí. A vantagem, se é que há, é irrisória. E mais, o que o '+Paixão' tem tanto a mais que o 'Raça', pra justificar a diferença de R$ 160? Só ser o primeiro na prioridade? Tá muito fraco. Se fizessem algo realmente atrativo pro torcedor, ia sobrar dinheiro pro flamengo. Imagina pra começar, 100 mil pessoas pagando pra poder comprar antes, e mais, representando um valor que seja uma economia para quem opte por ir em todos os jogos comprando ingresso pelas vias normais. Pegando pelo Maracanã, que é o maior, já se teria aí 30 a 40 mil torcedores que não iriam conseguir ingresso, mesmo que participante do plano. Então que que o Flamengo tá preocupado com grana? Se der a vantagem financeira, muitos dos que entrarem já não vão conseguir comprar o ingresso e essa grana da mensalidade já irá como um 'extra' para o flamengo. Portanto, VP de marketing, o tal bam bam bam da Sky (q não consegue ter a mesma penetração q a Net), melhora isso aí rapá. Já comprei o tijolinho, mas só pq ia eternizar meu nome no CT do Flamengo (o q espero seja cumprido). Dar esmola eu to fora. Quero ter algum benefício, alguma economia, facilidade e comodidade. Tomá no c#@$% Bebeto, porra!

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  9. Acabei de descobrir seu blog por sua participação na eleição do craque da partida no Fla x flu.

    Gostei muito da sua sensatez. Excelente essa ponderação sobre o sócio torcedor, assim como o comentário do Felipe Gama.

    Eu me associei ao programa porque não quero mais esperar melhorar e finalmente confio na diretoria. Porém agora lançaram o sócio off rio online e valeria mais a pena me associar neste, tanto para mim como para o Flamengo. Pois não teria taxa extra para nenhuma empresa e o dinheiro entraria direto pro clube. Quem ainda não aderiu deve avaliar isso.

    O mais importante, como você relatou, é haver uma fusão dos programas oficiais como o sócio torcedor. Mantendo os parcos e incluindo muitos benefícios para os torcedores, especialmente os off rio, que representam um público potencial muito maior do que, exclusivamente, o carioca residente no Rio. Caso isso ocorra, tenho certeza, as adesões iriam explodir.

    SRN

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  10. Valeu, Vivi! =)))

    Felipe, obrigado pela moral do envio, hehe... Torço muito para que o Off-Rio migre pro ST. O ST merece frequentar o clube, exercendo assim a porção social do plano. Vamos aguardar...

    Semverniz, os caras hão de melhorar essa oferta inicial. Isso é fundamental para a captação de novos integrantes mas, especialmente, para reter os que já aderiram.

    Petrola, seja bem-vindo! Espero que visite sempre o blog e, como já disse, é importantíssimo que o projeto da Ambev seja apenas um apêndice do rol de ofertas do Flamengo aos STs e potenciais STs...

    Abraços e Saudações Rubro-Negras a todos!

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